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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Dieta



Hoje de manhã acordei morrendo de fome, aquela fome de lua-de-mel, de férias na praia, de pré-adolescente em crescimento. Fui para a mesa do café da manhã e encontrei lá, a minha ração diária de dieta: meio mamão papaia-mirim, do tamanho de uma noz, uma xícara de chá sem açúcar e uma fatia de pão preto com grãos, torrada e recoberta por uma fina camada de ar. 
Para fazer o café franciscano render, comi o mamão com uma colherinha de mexer cafezinho, bem pequena, assim, fiquei com a sensação de que o mamão era maior e gastei algumas calorias na luta contra a fruta. Depois, sorvi o chá em micro-goles enquanto comia 'a' fatia de pão, molécula por molécula. 
Não estranhem se eu estiver de mau humor a essas horas, mesmo porque não foi o primeiro dia. Foi o vigésimo quarto, comendo esta mesma coisa. 
E por que faço isso? Porque me odeio? Porque estou fazendo um 'No Limite' na minha casa? Não. Faço isso porque estou na minha nonagésima nona tentativa de emagrecer, o nonagésimo nono regime, dieta ou sacrifício. 
Isso não seria nada se o cardápio para o almoço não fosse apenas e tão somente-só, uma saladinha de atum de lata com cebola. E nada mais. 
Quem tem mãe gorducha, avó gorducha, parentes gorduchos, e uma tendência hereditária ao acúmulo de gordura sabe do que estou falando. Sou daquelas pessoas que tem dois problemas em relação ao corpo: facilidade de engordar e dificuldade de emagrecer. 
Faço esporte sempre que posso e, neste exato momento em que escrevo, estou pensando em correr meia horinha ou fazer uma bicicleta ergométrica que está lá, magra e ereta me esperando na sala. Mesmo assim, queimo calorias com grande dificuldade. 
Mas essa não é a regra da minha família. Tenho uma prima que sempre foi magra e come como uma louca. Sempre morri de inveja de gente que come o que quer e fica magro. Se um dia houver um progresso verdadeiro na ciência, será esse, o de poder comer com prazer, sem excessos, mas sem engordar. Hoje, que acostumei meu organismo a uma dieta espartana, se eu olhar para uma torta de chocolate, a menina do meu olho engorda! 

Achei que eu não tinha mais força de vontade para passar pelas privações que estou passando. Não acreditava mais que eu fosse capaz. Surpreendentemente, estou conseguindo e já perdi 5 quilos, sem remédio, só na dieta alimentar. Meu marido diz que eu estou ótima,mas ele é um sujeito  suspeito,pois sabe do que eu sou capaz se ele disser que estou gorda.
Para conseguir seguir o cardápio tenho que fazer certos malabarismos horrorosos. Na segunda feira, levei uns frios de peito de peru para a lanchonete da escola onde trabalho e, como uma traficante de mortadela, passei os frios pra gerente enfiar na salada que eles servem, sem constranger os clientes. Melhor ainda é lavar o tupperware com sabonete líquido no banheiro da escola. Lindo, lindo.

6 comentários:

  1. Estás já h´[a bastante dias e estás bem! Perdeste 5 já! É preciso uma baita força de vontade e eu estou sem ela.Por isso estou precisando ter, mas;....bjs,chica

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  2. Eu tenho peso a mais. Bastante. Levei até aos 55 anos com 47 Kg.
    Depois uma cirurgia, e uns meses de cortisona fizeram-me chegar aos 74 Kg. E nada tem resultado para baixar de peso. A dieta imposta pelos nutricionistas não resultou numa só grama perdida. A dieta por conta e risco que fiz não me levou os kilos a mais, mas trouxe-me uma anemia. Mas enfim eu estou quase com 70 anos a coisa é diferente.
    Um abraço e bom fim de semana

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  3. Hehehehehehe, eu estou tomando o suco detox, e comendo de 3 em 3 horas... Emagreci 3 quilos, hahahahahaha. Como é difícil!!!!!

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  4. Olha, eu também faço uma dietinha e sempre interrompo! Porque acredito que devamos procurar qualidade de vida, apesar da minha leve diabetes. Dai que procuro fazer uma boa dieta durante a semana para no final de semana poder curtir um pouco dos prazeres da culinária sem também abusar demais, apenas para matar a vontade! Mas de fato temos que ter força de vontade e pensamento positivo para podermos mudar! Um grande abraço

    Flavio Ribeiro

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  5. Mari, não estou conseguindo comentar. Já tentei comentar e enviar, mas a principio não está indo o comentário. Vou te enviar no teu e-mail.

    abraço

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  6. Consegui. Comentei o texto anterior - "Meninos e meninas", e o último - "O lado animal do homem". Agora vou comentar este texto, "Dieta". Como se vê eu me empanturrei com seus textos doces. Em um eu vi o desabrochar do humor agridoce e o amor ser retratado na busca por algo que é indizível. No outro o despertar na alma de uma iluminação bailarina e no sonoro canto do sino amoroso a nos chamar para sua oração matinal. Neste texto, o "Dieta", vejo-o se relacionar de forma delicada com os dois anteriores (na ordem deste meu comentário). "Dieta" ilustra a busca por equilíbrio, pelo caminho do meio, a justa medida que impõe Harmonia, Beleza. O que nos impõe uma pergunta inevitável - O que é a harmonia e a beleza? Não nos acanhemos. O mistério da vida nos convida a sondar suas entranhas e a nos transformarmos em diamante. Não pretendo, contudo, entrar na discussão sobre a "ditadura da beleza", muito bem acentuada pelo Augusto Cury, mas propor uma reflexão de ordem antropológica, visto que a beleza pode ser entendida como um signo representativo e variável na sua formação social e psicológica.

    A beleza, deste modo, nos mostra sua história, a qual deságua, de fato no que é hoje a chamada "ditadura da beleza", propagada por modelos mediáticos. O que a beleza nos insinua no correr de sua dança formosa é a dimensão informal e transcendente de sua constituição. O que nos leva novamente para o estudo acerca das funções e estruturas da idolatria.

    A antropologia nos mostra que houve no interior das religiões o desenvolvimento de formas de idolatria, a qual se dá no antropomorfismo, a saber, na

    "Litolatria" (adoração as pedras) - facilmente observável na paixão da avareza.

    "Filolatria" (adoração as plantas) - perceptível na relação animista com as plantas.

    "Zoolatria" (adoração aos animais) - observável no horizonte de variadas religiões.

    "Mitologia" (adoração de deuses antropomorfizados) - próprio de um conceito politeísta mas não fechado.

    O que fica claro neste desenrolar é a interpenetração dos modos de antropomorfismo e sua paralela constituição de idolatria. Na natureza não há saltos. Podemos observar em nosso meio resquícios deste processo de antropomorfização. Talvez através do século XV tenha começado a antropomorfização do próprio Homem. Por isso o surgimento do Renascimento como o surgimento de um Humanismo. Essa antropomorfização, entretanto, nos reflexiona em uma medida distinta - não mais o Ego como medida, mas a Alma, ou o Espírito. Para isso é preciso desnudar a Singularidade.

    É notável que estamos atravessando o século da Diferença; o conceito que marca o século XXI é o conceito de Diferença. Basta olharmos através do desenvolvimento dos Direitos Humanos de diretrizes que defendem a diferença; debates, estudos, uma torrente de informações sendo geradas como forma de encontrar uma medida justa e que componha uma sociedade harmoniosa entre a multiplicidade de diferentes. Não mais impor uma forma mas encontrar em si o nascimento da vida. Isso não implica em anarquismo. Implica em autoconhecimento em um plano holístico, totalitário. Não um Eu como uma ilha. Mas o Eu como um Si mesmo, ou seja, um Outro, uma abertura.

    "Dieta" nos mostra, portanto, que a busca da medida corpórea atravessa uma grande questão, como o barco que nas ondulações prateadas do mar faz parte do berço que o leva. Nos esclarece que é no caminho do autoconhecimento que a medida ganha forma. Esse autoconhecimento, no entanto, não é respaldado no Ego, mas soerguido de sua inércia latente por força galvânica, a força da Alma. Na alma não há sexo, cor, nacionalidade, religião; a alma é o principio que dá vida. A alma é criadora por excelência. Faz parte de sua semelhança com o Princípio gerador do Todo. E assim as almas se unem para a formação de um novo mundo. E esse novo mundo nos pede que assumamos a responsabilidade por nós mesmos e pelos outros, que são, no sentir da vida, sempre um semelhante.

    Com carinho,
    Vinicius.

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